sábado, 31 de janeiro de 2009

o modo de ser dos outros

Francis Bacon. "Im optimistic about nothing"

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

olhem, vou dar uma volta ao bilhar grande

paradoxo de Moore

Quando escrevi este post, não fazia a menor ideia que a ambígua associação de ideias tinha sido formulada por Moore.
Se digo: "Está a chover lá fora, mas não acredito nisso" produzo um paradoxo porque subverto a escala de valores que, em princípio, fundamentam o conhecimento. Estou a dar um valor mais alto, ou pelo menos o mesmo valor, a uma crença que a um facto, quando são enunciações de factos que asseguram o conhecimento.
O mais curioso do paradoxo é que ele não viola qualquer possível "estado de coisas", pois é perfeitamente possível que esteja a chover lá fora e que eu não acredite nisso. Ele não é fenoménicamente contraditório. Mas se torno um possível estado de coisas numa aquisição dos meus sentidos, isto é, se percepciono um certo estado de coisas ("está a chover"), então não posso simultaneamente não acreditar nisso. Pareço assim incorrer numa contradição lógica, porque saber-se que p parece implicar acreditar que p.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Guercino, Cleopatra morrente, 1648, Palazzo Rosso, Génova



Sempre me assaltou a dúvida radical acerca de todas as minhas actividades. Por exemplo, escrever. Eu sempre me perguntei pela utilidade desta actividade, porque em mim nada que seja um acrescento às necessidades biológicas é natural. Eu não escrevo como respiro, como não leio como caminho nem jogo futebol como me alimento. Tudo o que não são necessidades biológicas requer um esforço que tem de ser justificado com alguma razão superior, da esfera ultra-biológica. Querer encontrar essa justificação, e porque tem que ser uma justificação que justifique e não meramente mascare, significa percorrer as dificuldades de quem quer encontrar um valor que a todo o momento certifique a legitimidade do que fazemos. Mas isso é pensar, coisa que por acaso e muito curiosamente não me encontro a questionar, não me está submetida a dúvida radical. Quer isto dizer, então, que pensar não necessita de justificação? Se não necessita de justificação é natural, no sentido forte de pertencer a esfera biológica. Assim, penso logo sou, e sou pertencendo ao mundo das coisas naturais, como se esta particularidade da nossa constituição mais não fosse do que o que para um cristal é reflectir a luz.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Da China vem uma economia galopante, diz-se. É um país comunista aberto ao capitalismo selvagem. Tem uma tradição milenar. Grandes novidades.
Os chineses que eu conheço não são tycoons, nem revolucionários amestrados. São pessoas que olham o mundo a sua volta com a forma das suas pálpebras. O seu maior valor é a horizontalidade (quando, no Ocidente, se fala em verticalidade para exprimir virtude). Eles estão na mesma linha onde se inscreve a Natureza e as acções humanas, que são os únicos pontos permanentes de referencia que qualquer ser humano possui. Estão arreigados às coisas, e olham o mundo nos olhos. Parecem perceber que fora dele está só um vácuo inútil e apaixonam-se por flores, por pormenores, mas também por palavras, pela pequena e grande realidade.
é por isso que olho para a planta que a minha vizinha mantém no vão das escadas exteriores do nosso prédio com a maior das admirações. Aquela rapariga cuida da realidade ao cuidar da plantinha. É ali que está a sua resistencia, o seu empreendedorismo, mesmo a sua revolução perante uma sociedade que lhe é estranha e hostil.