quinta-feira, 22 de maio de 2008

a vida das formas


Delacroix, A morte de Sardanapal


Tudo é forma, e a própria vida é uma forma. Esta sentença de Balzac entroniza a dimensão da forma como originária em relação a todos os fenómenos. Reduzindo um pouco o âmbito universal da frase balzaquiana, a forma pode definir-se como o que dimensões diferentes como a matéria, o espaço e o tempo mostram aquilo que a estas não é redutível mas que nestas permanece como carácter. É a abordagem àquilo que depende do que está num objecto como suas características primárias e físicas (tempo, espaço, matéria) e que, simultaneamente, não é por si só nenhuma destas particularidades concretas, que motiva uma boa parte dos estudos sobre a Arte que mais têm marcado a Estética do séc. XX.

Wilhelm Worringer e Henri Focillon são os pais da Estética da Forma. Eles destacam-se porque foram os primeiros que forçaram a Estética, ou mais rigorosamente a Filosofia da Arte, a empreender um caminho que se traçasse principalmente sobre a urgência de retirar à experiência estética de um objecto artístico o seu carácter subjectivo. Para não recair numa subjectividade que reduz a Arte a uma questão de mera “apreciação” de um objecto, a Estética da Forma foi, aos poucos, delineando o acesso a uma experiência não subjectiva da Arte, através de um movimento pela qual o objecto toma posse das características que até aí estavam inapelavelmente ligadas ao espectador da obra de arte. O que estes autores completam é uma genealogia das formas, mostrando como a sua transformação se baseia num conjunto de mutações não imputáveis à vontade dos artistas, mas sim a uma capacidade evolutiva que as próprias formas possuem. Um arabesco ornamental pintado num quadro do Renascimento não “está” no espaço no sentido em que nele foi colocado, mas forma o espaço. Ao longo do tempo, as formas que presidem aos estilos artísticos avançam e recuam, contradizem-se na mesma época, algumas são dominantes e outras são subtis. E no espírito humano essas são capazes de se auto-originarem, mantendo sempre uma certa independência em relação à biografia do artista, e forçando sempre a mão a dar-lhes uma existência na matéria.