terça-feira, 12 de agosto de 2008

utilidade inutil da arte

Jeff Koons, Rabbit



O conceito de utilidade aplica-se, com toda a certeza e sem qualquer espaço para dúvidas, apenas e só às realizações humanas. Esta restrição do conjunto das “coisas feitas” ao conjunto das realizações humanas serve para nos concentrarmos à superfície, na pureza e na definitude dos factos, sem embarcar nas especulações metafísicas sobre a criação divina ou o acaso absurdo. De todas as coisas jamais postas pela humanidade sobre a terra, as coisas úteis constituem todas aquelas que possuem primariamente uma função bem definida. Elas foram criadas com a intenção de responder a uma necessidade e como tal são a resposta humana a uma falta (quando uma certa classe de objectos ainda não existia, digamos por exemplo os pratos) ou a uma carência funcional dentro de uma classe específica de objectos ( a evolução das embalagens de manteiga). Da quase totalidade dos objectos saídos do labor humano que a todo o momento nos rodeiam, a quase totalidade corresponde a uma supressão de carências do foro prático.
A excepção a esta regra da utilidade está reservada àquela classe de objectos que não têm primariamente uma função prática, embora esta nunca esteja ausente: as obras de arte. Considerando exclusivamente a parte física de uma obra de arte, ela é de todo uma criação “inútil”, pois não serve para completar uma acção, estabelecendo-se resolutamente da parte da contemplação. Com a união destes dois conjuntos de objectos, os utensílios e as obras de artes, esgotam-se todas as categorias possíveis em função da utilidade. Ao mesmo tempo, esta curiosidade permite-nos ver uma obra de arte de um modo muito particular, e talvez seja mesmo um óptimo ponto de partida para começar a reflectir sobre outras características específicas da arte.