quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Andy Warhol, Brillo Box



A Arte não pertence, no sentido mais forte da palavra, a uma nação. Mas fazendo uso da sua autonomia, que lhe advém historicamente de uma verdadeira autodeterminação, pode, se assim o entender, exprimir as particularidades da cultura de um país. E no caso da Pop Art esta ideia aplica-se de uma forma muito relevante. Ao entrar em contacto com figuras icónicas repetidas, em cores garridas e que apelam ao distanciamento da realidade sensível com a consequente des-realização de personagens (Marylin, JFK, Muhammad Ali) inserindo-as no domínio do mediático, do artificial e do incontactável, a Pop Art exibe magistralmente a revolução mediática e massiva que invadiu os Estados Unidos nos anos 60, e a partir daí o mundo. Recorrendo de forma muito hábil a uma subtil ironia (qualquer distanciamento em relação ao que se pretende exprimir implica uma dose de ironia, e só se pode exprimir o que quer que seja distanciando-se dessa coisa), esta “arte popular” institui-se ela própria como um “meio” artístico, um media. Com esta desrealiazação, este distanciamento, a Pop Art é uma forma mediática no interior do próprio universo da Arte em geral. Ela é a mediatização do sensacionalismo, no duplo sentido em que se coloca entre o espectador e o mundo sensível, operando voluntariamente uma distanciação ainda maior, e ainda na forma como aceita entrar no jogo da superabundância de informação, da iconização, do ultra-expressionismo de uma época e de um país.

Mas pode a arte pertencer num sentido mais fraco e minúsculo a uma nação? Confesso que fiquei satisfeito por saber que a famosa instalação de Warhol, Brillo Box, “pertence” agora à colecção Berardo. A partir do contacto com esta obra Arthur Danto iniciou um percurso filosófico muito importante para a filosofia da arte contemporânea. Esta entrevista constitui uma óptima introdução aos tópicos por ele abordados.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

benedito bento

Romano Prodi (fonte)




A Itália está novamente em convulsão. É muito difícil para um estrangeiro compreender plenamente o que se passa na política italiana, mas tudo aquilo que vem à tona tem o mesmo aspecto de Nápoles por estes dias, ou seja, está tudo carregado de lixo.

A face pragmática da política atinge aqui uma transparência total. Porque já não há representação de ideologias, mas tudo se submete à lógica da representação parlamentar, formando-se coligações absurdas que juntam partidos pró-comunistas com partidos de índole reaccionária. Depois, tudo parece minado pela base, com a impossibilidade crónica de se fazerem reformas profundas (onde mais é que isto se passa?...humm)


Enfim, a sombra de Berlusconi parece pairar por cima disto tudo, esperando apenas o momento certo para se reapoderar de todos os centros de poder de um país: política, futebol, meios de comunicação...



Entretanto, mais uma "gaffe social", que não é mais do que outro sintoma de outras doenças enraizadas numa sociedade. O Papa foi vetado na Universidade "La Sapienza". Creio que poucos se deram ao trabalho de ler a lição que Bento XVI propôs. Aqui fica, para quem a conseguir ler. link

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

herbart

Também e apesar de todas estas contribuições em diferentes campos não por isso absolutamente independentes e autónomas, Herbart é ainda considerado o pai da Pedagogia moderna. A Fundação Gulbenkian, muito oportunamente, publicou o seu Tratado de Pedagogia Geral, com tradução de Ludwig Scheidl.
(que aconteceu ao site da Gulbenkian? tudo relacionado com esta instituição parece estar numas vacances de internet)

domingo, 20 de janeiro de 2008

herbart

J. F. Herbart (imagem daqui)



Johann Friedrich Herbart (1776-1841) tem sido o nome que mais me tem acompanhado pelos meandros das minhas vagabundagens escolásticas, aqui por Roma. Foi uma personagem precoce, aos vinte e poucos anos já confutava Schelling e outros iluminados. Ele é um revolucionário, daqueles revolucionários cuja revolução não tem lugar durante a vida. Foi talvez o homem que à sua época mais se insurgiu contra o establishment (dir-se-ia agora). No auge do idealismo, para o qual “o real é racional”, Herbart descobriu uma enormidade de espaço entre o que é produto do nosso pensamento e o que é o real efectivo, através das contradições que nos são dadas a observar no mundo, observação esta que é simultâneamente o ponto de partida para qualquer reflexão. Não basta, diz ele, pensar sobre o objecto para o fazer existir, como que se por um processo de geração espontânea o pensamento institui-se a realidade. Hegel, Fichte e Schelling, os grandes nomes do idealismo alemão, de formas mais ou menos semelhantes apoiaram a inteligibilidade do real sobre a ideia de que ele se deixa apreender através de uma misteriosa intuição intelectual, que não tem necessidade da crítica, ou do depuramento através dos princípios elementares da lógica.
Para Herbart, o pensamento está incontornavelmente submisso às suas próprias leis, e como tal, um sistema filosófico não pode abdicar nunca de estar em conformidade absoluta com as leis mais básicas da lógica. Só a partir daí se poderá constituir um saber sobre o real, através de uma procura passo-a-passo e nunca através de um saber “por revelação” ou por algum tipo de intuição divina presente no próprio exercício do pensar.

A sua importância para a Estética está ligada também a uma certa ideia de “avaliação” das condições sob as quais se pronunciam juízos estéticos. Os juízos estéticos são não apenas os juízos acerca da beleza ou da fealdade de um objecto, mas são também juízos morais, ou seja, juízos acerca da bondade ou maldade de uma acção ou um sujeito. Desta subsunção da Moral dentro do domínio da Estética se infere facilmente que para Herbart a Estética é o exercício do valutar em geral. Trata-se de ajuizar sobre tudo aquilo que é passível de juízo, e por isso não só uma paisagem ou uma obra de arte, mas também as acções, a filosofia prática. Todo este exercício do valutar é, tal como para Kant, indiferente à existência real ou não do objecto sobre o qual se ajuíza, ou seja, para o juízo estético não há interesse relativamente à existência, apenas há interesse relativamente à percepção.
A influência de Herbart na Estética é muito relevante para recentrar esta disciplina na ideia de juízo estético, numa altura em que a Estética se tornou tão autónoma que passou a ser difícil definir-lhe os limites.