A "língua-mãe" faz o mesmo que uma mãe. Cria os seus filhos, dá-lhes um aceso ao mundo. É um acesso talvez parcial? Não, porque ou se tem um acesso através da linguagem, ou se é mudo, o que equivale a não ser nada. Percorrer a vida através do pensamento equivale a entrar no labirinto da linguagem. Por sua vez, sem linguagem o mundo seria um espaço vazio, uma superfície sem limite. Reconhecer-se como existência equivale a falar, e falar significa criar labirintos. A minha língua-mãe traduz-se em madrelingua em italiano. Os ingleses não estão para liricismos: mother tongue espelha no entanto uma mecanicidade malvada, a determinação física de qualquer ideia metafísica, um linguarejar salivoso e lânguido. Interstício significa a fissura incógnita que se esconde dentro de qualquer texto - a que Derrida chama escritura. E, mais em geral, o lugar do entre, o espaço entre a chuva. Apela porque sabemos que lá está mas não o podemos atingir. Escrever um texto, ou lê-lo, é um exercício inútil. A palavra italiana frammezzo: e a palavra portuguesa entremeio: parece que mesmo encontrando o que se esconde entre as linhas não lá chegaremos. É preciso escavar ainda mais, entre o meio. Mas aí já seria um espaço dentro do meio, o que é inacessível. É a quarta dimensão do texto, a sua arrogância extremista. Entremeada também é interessante.
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
tongue
Publicada por deuulgarieloquentia às 12:44