segunda-feira, 29 de outubro de 2007

a estética do fazer filosofia

Paolo Uccello, San Giorgio e il Drago



Porque há toda uma ontologia, um pensar inconstante e inconsciente por detrás da criação, antes de a obra chegar ao mundo.

Porque, mesmo ao nível da intenção, da consciência, da vontade, a escritura filosófica não é inocente e obedece a um certo incarnar o espírito do filósofo.

Porque dar o próprio assentimento ao que se escreve é talvez uma prerrogativa necessária para que o que se escreve surja enquanto obra. Ou seja para além dos aspectos que colocam o criador como um mero intermediário, ele não fica na penumbra e todo o produzir é atravessado por uma luta entre o criador e a obra. Há sempre qualquer coisa de agressivo no fazer artístico, e no fazer filosófico. Há sempre uma vontade de assenhorar-se de tudo o que é condição, natureza e epifania na obra de arte.

Porque a Estética, pelo menos desde Husserl e a fenomenologia, já saiu do circuito dentro do qual se entende a Arte na sua forma clássica, isto é, ou como reprodução de elementos do mundo, ou como relação essencial com o mundo do ponto de vista da representação das suas formas. Ela intromete-se nos núcleos duros da Ética, da Hermenêutica, da Política, até da Religião.

Onde ganha a filosofia a sua identidade? Afinal, o que é a filosofia? É este o projecto de uma estética do fazer filosófico…